Um dos tópicos essenciais da Agenda 21 brasileira (Senado Federal, 1996) sugere que suprimentos adequados de água de boa qualidade sejam mantidos para toda a população do planeta, enquanto se conservem as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas naturais, adaptando as atividades humanas dentro dos limites da natureza e combatendo vetores e doenças de vinculação hídrica. A construção de reservatórios é uma das grandes experiências humanas na modificação dos ecossistemas naturais, e vem sendo executada pelo homem, desde tempos remotos, com o objetivo de armazenar água para o consumo, irrigação controle de inundação e aqüicultura.
Nos últimos anos, o processo de eutrofização tem se acelerado em reservatórios brasileiros devido aos seguintes fatores: aumento do uso de fertilizantes nas bacias hidrográficas, aumento da população humana, elevado grau de urbanização sem tratamento de esgotos domésticos e intensificação de algumas atividades industriais que levam excessiva carga de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica para essas represas. Ao mesmo tempo, o uso múltiplo tem se intensificado, tornando muito complexo o gerenciamento de represas e de bacias hidrográficas.
A adição de nutrientes inorgânicos e de matéria orgânica aumenta a fotossíntese a respiração nos corpos d’água. Esta é uma situação chamada de EUTROFIZAÇÃO, e é uma condição para um processamento de energia de alto metabolismo. A eutrofização é um dos estados da sucessão natural dos ecossistemas aquáticos. À medida que o tempo passa e os nutrientes vão se acumulando, havendo um desenvolvimento cada vez maior das populações de fitoplâncton, observa-se com freqüência o florescimento de algas.
Quando acontece naturalmente, a eutrofização é gradual e muito lenta (demora muitas dezenas de anos a estabelecer-se). Entretanto, quando este processo é acelerado, há um aumento desordenado na produção de biomassa, impossibilitando a sua incorporação pelo sistema aquático com a mesma velocidade e provocando, assim, um desequilíbrio ecológico. Denomina-se este processo de EUTROFIZAÇÃO CULTURAL.
A eutrofização artificial ou cultural é a designação empregada para diferenciar a ação do homem, daquela causada na evolução dos ambientes aquáticos, isto é, a eutrofização causada por um influxo nutritivo natural. A eutrofização cultural é causada principalmente pelas seguintes atividades: despejos de esgotos domésticos; despejos de atividades agrícolas; poluição do ar e queda do material da atmosfera (sob a forma de partículas junto com a água de chuva); vegetação remanescente em represas não desmatadas antes do fechamento. As suas principais conseqüências nos sistemas aquáticos são: aumento da biomassa e da produção primária do fitoplâncton; diminuição de diversidade de espécies; diminuição da concentração de oxigênio dissolvido; diminuição na concentração de íons; aumento do fósforo total no sedimento; aumento da freqüência do florescimento de cianofíceas.
Efeitos da eutrofização
• Anoxia (ausência de oxigênio dissolvido), que causa a morte de peixes e de invertebrados e também resulta na liberação de gases tóxicos com odores desagradáveis. O metano (CH4) é formado pela decomposição anaeróbica de algas fenecidas (sem oxigênio). Pela presença de ácido sulfídrico apresentam-se condições redutoras, que produzem a liberação de ligações dissolvidas de fosfatos do lodo do fundo.
• Florescimento de algas e crescimento incontrolável de outras plantas aquáticas. O excessivo crescimento de algas tóxicas, particularmente cianobactérias, pode propiciar a morte de animais, a contaminação em seres humanos e problemas gastrintestinais e de pele.
• Produção de substâncias tóxicas por algumas espécies de cianofíceas.
• Altas concentrações de matéria orgânica, as quais, se tratadas com cloro, podem criar compostos carcinogênicos.
• Deterioração do valor recreativo de um lago ou de um reservatório devido à diminuição da transparência da água. Concentração demasiada dos nutrientes atuam no desaparecimento das plantas herbáceas submersas, em consequência da forte turvação da água pelo desenvolvimento de grandes massas de algas; a visibilidade e a transparência da água passa a ser inferior a 20 cm.
• Acesso restrito à pesca e às atividades recreativas devido ao acúmulo de plantas aquáticas.
• Menor número de espécies de plantas e animais (biodiversidade).
• Alterações na composição de espécies daquelas mais importante para as menos importantes (em termos econômicos e valor protéico).
• Depleção de oxigênio, nas camadas mais profundas, durante o outono em lagos e reservatórios de regiões temperadas.
• Diminuição da produção de peixes causada por depleção de oxigênio na coluna d’água. A morte dos peixes por rarefação temporária do oxigênio, mesmo nas camadas superiores da água, ou por envenenamento com amônia em conseqüência da elevação do pH pela intensa fotossíntese.